Tecnobananas

No final de Julho assisti atônito ao apresentador da Globo News anunciar o rompimento do acordo do Brasil com a Ucrânia para a utilização da base de lançamento de foguetes em Alcântra, no Maranhão. Ele anunciava a notícia com comentários de "foi tarde" e "talvez não devesse nem ter começado".

Independente de concordar ou não com a decisão do Ministério da Ciência e Tecnologia, o que mais me surpreendeu foi o sarcasmo do apresentador. Aparentemente, o gasto estimado até hoje de R$ 800 milhões poderia justificar o tom jocoso.

Considerada por muitos especialista uma das bases mais bem localizadas do mundo (fato que gera grande economia no combustível necessário para colocar um foguete em órbita), Alcântra desperta o interesse não só da Ucrânia, mas de países como França, Alemanha e EUA.

Em 2004, quando foi assinado, parecia o casamento perfeito: o Brasil tinha a base, mas não possuia foguete (lembra do incêndio em 2003?); já a Ucrânia detinha o know-how dos foguetes (herdado dos tempos em que era parte da antiga União Soviética), mas não tinha a base.

Mesmo o custo de R$ 800 milhões parece pífio, frente aos benefícios que o projeto poderia trazer caso tivesse alcançado seu objetivo. Hoje apenas 9 países detêm esta tecnologia. Basta compararmos o valor com o orçamento das maiores obras em curso no país: a usina hidroelétrica de Belo Monte, por exemplo, tem preço orçado de R$ 26 bilhões e a transposição do rio São Francisco já gastou R$ 8,2 bilhões sem que a obra tenha sido concluída (o valor inicial era de R$ 4,7 bi).

O que mais preocupa é que gastos com ciência e tecnologia não parecem fazer parte das prioridades do país. Mais preocupante ainda é a sociedade civil e os formadores de opinião também não terem despertado para a importância do setor na matriz econômica do século XXI. Cifras muito superiores, como as apresentadas acima, parecem bem mais justificáveis aos olhos da maioria.

Não quero dizer com isso que não precisamos de hidroelétricas e obras de infraestrutura. Entretanto, é preciso atentar para aquilo que será de fato determinante para deixarmos a condição periférica que ocupamos hoje e finalmente atingirmos um novo patamar. Até quando seremos o país do futuro?

Nos últimos anos, achamos que ficaríamos ricos vendendo soja e minério de ferro para a China, sem perceber que "alta das commodities" não passou de uma bolha econômica. Ignoramos a história e o fato de que nenhum país moderno alcançou alguma liderança sem se desenvolver tecnologicamente. Pau-brasil, ouro, borracha, café e agora, minério de ferro e soja. É... Realmente pouca coisa mudou desde 1500.

Texto publicado originalmente na Revista Locaweb #54